segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Entre Vida e Luz- Hipotireoidismo

Fragmentos do trabalho de conclusão da formação de Cantoterapia

1. Visão Geral
“A glândula tireoide tem a forma de um escudo. Comparável a uma borboleta, seu corpo esguio agarra-se à parte inferior da cartilagem tireoidiana que está sobre a laringe enquanto as asas da borboleta, os dois lobos da glândula tireoide, estão dispostas de ambos os lados da traqueia. Sua função é a produção do hormônio do metabolismo que aparece sob duas formas. A L-tiroxina” (T4) “e a ainda mais eficaz tri-iodotironina” (T3) “consistem substancialmente de iodo e têm a função de mobilizar o metabolismo. Elas aumentam a vitalidade por mais tempo e de maneira mais duradoura que os hormônios de ação rápida produzidos pelas glândulas suprarrenais, a adrenalina e a noradrenalina. Além do sistema circulatório, com a pressão sanguínea e a frequência cardíaca, são estimuladas também as funções respiratórias e digestivas, a temperatura se eleva, aumentando também o metabolismo basal, a atividade nervosa e a excitabilidade muscular; enquanto o tempo de reação diminui, aumentam o estado de alerta e a velocidade de raciocínio... W. L. Brown chamou a tireoide de ‘glândula da criação’.” (Ruediger Dahlke: “Doença como linguagem da alma”)
O hipotireoidismo é uma disfunção na tireoide. A produção do T3 e T4 é regulada pelo hormônio TSH, que é produzido na glândula hipófise. O TSH age como se fosse um interruptor: quando faltam T3 e T4 no sangue, o TSH sobe (fica “ligado”) e com isso tenta normalizar os níveis destes hormônios. De forma inversa, quando T3 e T4 estão elevados no sangue o TSH fica “desligado” e seus níveis no sangue caem. O hipotireoidismo acontece quando os níveis de T3 e T4 estão baixos.
“As consequências são baixo metabolismo basal e carência de energia. A pressão arterial cai, assim como o nível de glicose do sangue, surge a anemia e o metabolismo somente funciona no fogo mais baixo, levando ao cansaço, moleza, uma falta geral de impulso, e ao aumento de peso. Somam-se a isso a falta de apetite e a prisão de ventre, enquanto os cabelos tornam-se secos e hirsutos e podem cair. A pele é mal irrigada pelo sangue e, em consequência, fria, tendendo a engrossar. O tecido subcutâneo adquire uma consistência esponjosa e dura, razão pela qual os médicos falam de mixedema. O estado de espírito é desalentado depressivo, a expressão do rosto é embotada e desinteressada. A personalidade letárgica, ralentada, intelectualmente adormecida a ponto de dar a impressão de atraso mental é o maior contraste com os vivamente despertos, hiperexcitados pacientes de hipertireoidismo cheios de angústia... Onde os pacientes de hipertireoidismo vão ao encontro da vida com angústia da morte e dão a impressão de que estão lutando em pânico pela sobrevivência, os pacientes de hipotireoidismo vão ao encontro da vida com indiferença, como se ela não lhes dissesse respeito. Assim como todo o resto, ela os deixa inteiramente frios. Parece que eles estão se fingindo de mortos. Mas no tema da morte há novamente algo em comum com os pacientes de hipertireoidismo. Uns a temem enquanto os outros a imitam, mas todos ocupam-se constantemente com ela.” (Ruediger Dahlke: “Doença como linguagem da alma”)
Outros sintomas podem ser: hipotonia, voz grossa e baixa, rouquidão, sensibilidade ao frio, a pessoa é friorenta, memória ruim, distúrbios de concentração, dificuldade de expressão e comunicação, formigamento nas extremidades, reflexos lentos, fraqueza muscular, distúrbios de sono, falta de libido.

Os sinais e sintomas de hipotireoidismo costumam variar, dependendo da pessoa e da gravidade do caso. Em geral, os sintomas manifestados por uma pessoa com hipotireoidismo tendem a se desenvolver lentamente, às vezes por muitos anos. Na primeira fase da doença, pode-se notar apenas alguns indícios, mas sem desconfiar que poderia se tratar de hipotireoidismo. Com o tempo, com alterações cada vez mais marcantes no metabolismo, os sintomas da doença podem começar a ficarem mais evidentes, levando o paciente a procurar um médico.
Embora qualquer um possa desenvolver hipotireoidismo, alguns fatores são considerados de risco para contrair a doença. Eles são:
Ser mulher, ter 60 anos ou mais, ser portador de uma doença autoimune, ter histórico familiar de doença autoimune, fazer uso de medicamentos que possam afetar a produção dos hormônios da tireoide, passar por sessões de radioterapia, já ter feito uma cirurgia de tireoide, estar grávida ou ter dado à luz nos últimos seis meses.
O diagnóstico de hipotireoidismo é baseado nos sintomas do paciente e nos resultados de exames de sangue que medem o nível do TSH, o hormônio estimulante da tireoide, e, por vezes, o nível dos hormônios triiodotironina (T3) e a tetraiodotironina (T4) produzidos pela tireoide. Um baixo nível de T4 ou T3 e alto nível de TSH indicam uma disfunção da tireoide. Isso porque a hipófise acaba produzindo mais TSH em decorrência de um esforço maior para estimular a glândula tireoide a produzir mais hormônios.
O tratamento padrão para o hipotireoidismo envolve o uso diário de uma versão sintética do hormônio tetraiodotironina (T4): a levotiroxina. Esta medicação oral restaura os níveis hormonais adequados, revertendo os sinais e sintomas de hipotireoidismo. Os primeiros resultados do tratamento costumam aparecer de uma a duas semanas após o seu início. Essa medicação também reduz gradualmente os níveis de colesterol e ajuda a reverter, também, um eventual ganho de peso do paciente provocado pelo hipotireoidismo. Na maioria dos casos, os níveis de hormônios produzidos pela tireoide voltam ao normal com o tratamento adequado. Contudo, o paciente deverá passar por terapia de reposição hormonal pelo resto da vida. Em relação ao tratamento do hipotireoidismo também sempre precisa se olhar para o processo psicossomático, precisa se levar em consideração o estado da alma. Este pode ser uma indicação importante para as terapias e medicinas complementares. Enquanto no caso de depressão o médico alopata prescreve antidepressivo, que em alguns casos deixa a pessoa pior. Pode-se alcançar melhoras significantes com remédios homeopáticos ou antroposóficos, tratamento com metais, terapias complementares como Terapia artística, Cantoterapia. Existem casos onde pode-se até diminuir a dose do hormônio sintético.
“A lição a ser aprendida pelos pacientes e a redenção do tema hipofunção consiste em voltar-se consciente e inteiramente para si mesmo, limitar as atividades ao mínimo necessário e aprender a deixar acontecer. A ‘moleza’ que todos os afetados encontram deve ser transformada naquele ‘Seja feita a Sua vontade’ consciente. A tarefa não consiste em deixar-se levar de um lado para o outro por todos, mas permitir pacientemente que a vida lhe mostre seu lugar. Não resignação em relação à vida, mas uma retirada do ‘Eu quero!’ para ‘Seja feita Sua vontade!’.”( Ruediger Dahlke: “Doença como linguagem da alma”)

 2. Hipotireoidismo segundo a visão ampliada pela Antroposofia

Pela visão da Antroposofia o Ser Humano encarnado possui uma corporalidade que se constrói a partir de quatro membros distintos: a organização física (corpo físico), cujo princípio é a forma, a organização etérica (corpo etérico ou vital), portadora da nossa vitalidade; a organização astral (corpo astral), o portador da consciência, onde se ancora a alma, e a organização do Eu (corpo calórico), que possibilita a presença de uma individualidade espiritual autoconsciente (veja a obra de Rudolf Steiner: ”Teosofia”).
A saúde de uma pessoa se dá pelo equilíbrio do “encaixe” destes membros da entidade humana. Todo corpo humano é, e todos os órgãos são, uma expressão destes membros. Cada órgão, cada sistema tem uma afinidade com um dos membros ou é uma expressão da atuação de um membro dentro do outro. Por exemplo, a atuação do corpo astral no corpo físico resulta no Sistema Neurosensorial e a sua atuação no corpo etérico se expressa no Sistema Glandular (endócrino), etc. - O sistema endócrino é a expressão física mais imediata do corpo etérico e a sua predisposição já existia no estado planetário que Rudolf Steiner chama de “o antigo sol”, época a qual o corpo etérico foi criado e introduzido na entidade humana (veja a obra do Rudolf Steiner: “A ciência oculta”). Naquela época as glândulas sugiram a partir da transformação do “germe dos sentidos”, quais foram criados em épocas anteriores. - Porém, este encaixe dos corpos não é algo estático, é dinâmico e constantemente está sujeito a oscilações. Por exemplo, o estado do sono acontece, porque o corpo astral e o Eu se afastam temporariamente do corpo físico e etérico (na região da cabeça e do tórax), e com isto a pessoa perde a consciência, ela adormece. De manhã a pessoa acorda pelo fato do corpo astral e o Eu se encaixar novamente. Esta mesma oscilação, só de forma mais suave, acontece na respiração, o inspirar se assemelha ao acordar e o expirar ao adormecer. Porém estes processos não são simples. Podemos observar que em cada região e sistema do corpo regem princípios específicos, próprios. Em geral podemos observar que o corpo humano se divide em duas partes opostas e que acontece uma inversão de princípios em todos os sistemas, que culmina na região do pescoço, como um grande portal entre dois “mundos” com princípios diferentes.
O pescoço, onde se encontra a tireoide e a laringe, é a região de inversão do corpo etérico (veja a obra de Armin J. Husemann: “Der musikalische Bau des Menschen”). Aqui transformam-se forças de formação orgânicas em forças de formação mentais (espirituais) e vice versa. Para cima lidamos principalmente com luz e para baixo principalmente com vida. Encontram e entrelaçam-se Alma-Espírito com Corpo-Vida. Portanto, a tireoide é um órgão extremamente encarnatório. Regem os princípios do planeta marte, quais estimulam a força de ação, de realização, de expressão, da vontade, enfim, tudo que faz do ser humano um ser ativo que anda, fala e trabalha.
Antigamente dizia se: “Através da Tireoide a alma entra no corpo”. Esta antiga sabedoria medicinal nos dá uma boa imagem para o quadro do hipotireoidismo. O paciente se retira animicamente e espiritualmente da sua corporalidade, como acontece no estado do sono. Ou em outras palavras; O corpo Astral e o Eu não conseguem atuar de forma regular dentro do corpo.
                        Acordar                  Adormecer
No curso “Pastoral-Medicinal” (GA 318), Rudolf Steiner descreve o que acontece quando o corpo astral e o Eu não conseguem penetrar direito no corpo físico e etérico, quando o Eu e o corpo astral não conseguem dominar os outros corpos. A pessoa não consegue chegar bem até os sentidos com os seus corpos superiores, de forma que as percepções sensoriais ficam pálidas e ela entra em um estado parecido ao sonho. Porém, neste caso surgem, de forma variada, fortes impulsos morais, que podem ficar um tanto confusos ou até dogmáticos. Além disso, apresenta anormalidades orgânicas, principalmente nas glândulas tireoide e suprarrenal, como também na hipófise e epífise/pineal. Uma pessoa assim pode manifestar um sentimento de culpa ou de pecado, maior do que normal, e o amor ao próximo pode intensificar-se imensamente.
A Hipófise e a epífise lidam com luz e calor. Em uma palestra para médicos e estudantes de medicina (GA 313, “Geisteswissenschaftliche Gesichtspunkte zur Therapie”), Rudolf Steiner aborda sobre a atuação dos éteres: Os éteres “se encontram no ser humano, e o ser humano está organizado de um jeito, que a sua organização culmina numa distinção ordenada dos éteres, éter vital e éter químico num lado, fluindo de baixo para fora, éter calórico e éter luz no outro lado, fluindo de cima para baixo” (GA 313, pg.33). Ou seja, éter luz e calórico fluem de fora para dentro, na direção centrípeta, e o éter químico e vital de dentro para fora, na direção centrífuga. -Podemos assim compreender a colocação no começo do capítulo, onde diz que, para cima da tireoide lidamos principalmente com luz e para baixo principalmente com vida. - E eles precisam se encontrar e atuar juntos de forma correta e no lugar certo. Qualquer éter que vem de fora e não se detém no lugar correto, que vai além e penetra mais do que deve, se torna tóxico para o organismo. Ele precisa encontrar o éter que sobe de dentro no lugar certo, isto é na região do pescoço, ”o portal entre dois mundos”, como já foi colocado anteriormente. Quando os éteres de dentro sobem demais, eles atuam de forma dissolvente. Enquanto uma vez acontece uma intoxicação e o organismo “congela”, na outra vez o organismo “derrete”, derrama-se vida demais sobre ele. Através da interação correta destes dois lados, surge o organismo etérico, estruturado, do ser humano, que na verdade é uma transformação do “redemoinho”, que surge pelo encontro dos éteres. Para baixo lidamos com a manifestação da vida que se transforma no encontro, pelo princípio da inversão, em luz e vice versa.
A inversão acontece também de outra forma. No curso da Euritmia Curativa (GA 315, 1ª palestra), Rudolf Steiner coloca que não pode se olhar os órgãos como algo separado. Todos os órgãos fazem parte de um mesmo organismo e qualquer um destes órgãos representa a metamorfose de outro órgão. Neste sentido poderemos compreender a verdadeira natureza da laringe apenas pela compreensão da sua metamorfose.
                                          Laringe de frente e de trás
                                         Laringe de trás e de lado

Pois, ela é um pedaço de outro lugar do organismo virado de trás para frente. A continuidade da laringe para cima é um occipício virado, metamorfoseado. As forças formativas etéricas fazem uma virada para a laringe. Precisamos imaginar o Laringe de frente e de trás / de trás e de lado occipício em conjunto com as partes auditivas, ampliado para baixo até o tórax com a sua coluna vertebral, as vértebras e seus arcos, abertos para frente. Agora imaginemos tudo isto metamorfoseado: a parte das vértebras diminuindo até se formar um tubo, uma tromba, os ossos transformados em cartilagem, as partes da cabeça que estão preenchidas com uma substância líquida-viscosa, tiramos. Pegamos apenas as partes mais porosas, como que preenchido por algo mais duro. Chegamos assim na metamorfose da Laringe!
Com a laringe carregamos etéricamente, para assim dizer, um segundo homem atrofiado no peito, que olha para trás, mas que tem certo potencial desenvolvido. Voltando para o occipício veríamos na continuidade para frente o cérebro frontal. Na laringe temos esta parte na forma da tireoide, ela é um cérebro linguístico “decadente”. No homem falante, ela assume funções que, sem ela, seriam do cérebro frontal. Na fala a tireoide precisa acompanhar a atividade. Por ter a tireoide, a organização do organismo é concebida a usa-la como um órgão mental, mas que pertence mais ao homem mediano, rítmico. Portanto, podemos observar a ligação da fala, do canto, da respiração, do sentir e do pensar com a laringe e a tireoide. A laringe euritmiza para trás, tudo que pensamos, sentimos, etc., e influencia assim a tireoide em sua atuação no corpo físico.

Em outra conferência (sobre Doença e saúde, GA 348, palestra do dia 02/12/1922), Rudolf Steiner fala sobre a tiroide e as glândulas em geral, como órgãos de desintoxicação. Parte do fato, que o organismo do ser humano constantemente é exposto à destruição, o processo de vida é destrutivo, gera constantemente toxinas (venenos) pela atuação dos corpos superiores. A atuação do sistema endócrino se dar na neutralização destas toxinas, através dos hormônios e secreções produzidos nas glândulas. Rudolf Steiner diz que, por causa da tireoide nos falamos de forma correta, não gaguejamos, ligamos pensamentos com sentido a nossa fala, etc. As glândulas renais atuam, entre outras coisas, na cor da nossa pele e as glândulas sexuais evitam o envelhecimento. Na tireoide lidamos com a questão de morte e ressurreição, por transformar as forças da morte em vida e pela inversão do orgânico-vital em anímico-espiritual.
Em sua obra “Der musikalische Bau des Menschen” (“A Harmonia musical do corpo humano”), Armin Husemann descreve a tireoide como um órgão de organização dupla, como também acontece na anatomia de outros órgãos. Por exemplo: rins – suprarrenais, fígado – vesícula biliar, ouvido interno – órgão de equilíbrio, e o mais ilustrativo, coração – pulmão. Assim também temos a tireoide e a paratireoide. O sentido desta organização dupla é que, uma parte se direciona para dentro do corpo em sua atuação e a outra parte para fora. Como já vimos, tireoide e paratireoide lidam com os processos da morte no corpo. A tireoide em relação periferia, onde tem uma constante repelência de substância morta, na pele, nos cabelo, nas unhas, etc. A paratireoide atua revivificando matéria óssea, contrabalançando a mineralização do esqueleto. Portanto no hipotireoidismo os sintomas, que mostram isto, são: pele grossa e seca, olhos pouco abertos, voz grossa e baixa, fala devagar, obstipação, pulso lento, cansaço, apatia; a pessoa se fecha cada vez mais para fora, o sangue não chega à periferia de forma suficiente, cria-se uma pele, que se parece cada vez mais com uma casca de árvore. Os sintomas do hipertireoidismo se mostram opostos: a pele afina, os olhos ficam esbugalhados, a fala é acelerada, diarreia, pulso acelerado, nervosismo e tremor; a pessoa fica vivaz demais e o esqueleto começa se dissolver em suas extremidades.
Esta organização dupla, encontramos no organismo também em outros sistemas e órgãos. Por exemplo, o ouvido e a laringe são dois órgãos que pertencem um ao outro. Na evolução, o ouvido existia antes da fala, ele recebe o tom, é um órgão passivo, a laringe é o produtor do tom, é a parte ativa, que se dirige para fora. A fala, com os seus órgãos, a laringe e tireoide, é o complemento do ouvido. Do mesmo jeito a hipófise representa o complemento ao calor do coração. O coração recebe e percebe o calor do mundo como o ouvido recebe o tom. O órgão que pode produzir conscientemente calor e irradia-lo para o mundo, é a hipófise, que está apenas no começo da sua evolução. Na evolução apareceram na sequência audição, órgão de percepção do calor (coração) e o órgão da visão (olhos). A visão ainda está em um estado de evolução onde apenas consegue receber imagens externas. Mas futuramente desenvolverá um órgão complementar ativo, qual dará vida às imagens. Este órgão está predisposto na epífise, na glândula pineal (veja a obra de Rudolf Steiner: ”Grundelemente der Esotérik” GA 93ª). Podemos concluir que, o ouvido é um órgão mais antigo que já passou por uma evolução, e segundo Rudolf Steiner está no caminho da involução, em compensação, o seu par, a laringe, ainda sofrerá uma transformação, tornando se um órgão de reprodução. Provavelmente, do mesmo jeito, podemos esperar do coração com seu par, a hipófise e dos olhos com seu par, a epífise, grandes transformações, que implicarão, pelo princípio da inversão, em outras capacidades do ser humano. Rudolf Steiner menciona, por exemplo, a capacidade de atuar magicamente.
Para melhor compreensão do princípio da inversão veja a obra do Armin J. Husemann “A harmonia do corpo humano” ou de Rudolf Steiner “Anthroposophie, ihre Erkenntniswurzeln und Lebensfrüchte” (GA 78, palestra de 02/09/1921), onde encontra se a descrição de um exercício plástico de inversão. Parte se do princípio da expansão, que expressa a atuação do corpo etérico, caminhando para o princípio da invaginação (interiorização), onde se expressa a atuação do corpo astral. Depois ultrapassando o próprio centro, e com isto ampliando o espaço interior, pela atuação do eu, chegando ao limite do espaço interno. Neste momento existe um limiar muito tênue, que no próximo passo se rompe e acontece uma inversão do espaço físico do peso para o “contra espaço” etérico, o espaço inverso da luz. Isto acontece em sete passos. No sétimo estágio se rompe o espaço físico, acontece a inversão e cria-se o espaço inverso como oitavo passo. O movimento formador desaparece do espaço externo, plástico e apenas se revela ao ouvir musical, revelam se as leis musicais. E pela compreensão musical pode–se observar fisiologicamente a atuação do corpo astral nos éteres.






Armin J. Husemann concluiu a partir desta compreensão: “No crânio o esqueleto é envoltório externo, ’cápsula orgânica’. No resto do corpo é sustentação interna. A formação dos pensamentos vive então, em relação ao resto do esqueleto, dentro de um espaço inverso.” A questão agora é, onde acontece esta inversão. Vimos que ela acontece com o sétimo passo, musicalmente falado com a sétima. Pensando em que já foi colocado sobre a região do pescoço, pode-se concluir que na laringe e na tireoide rege o princípio ou a qualidade da sétima. Teriam que ser órgãos que transformem as funções do corpo físico, através de uma inversão, em funções superiores, não físicos. Ou com outras palavras, que superam a morte e levam a uma ressurreição. E realmente encontra-se esta qualidade nestes órgãos. A laringe,
com auxílio da tireoide, represa o ar da expiração, que carrega o que foi desgastado, sob esta pressão o ar se aquece e abre a glote, assim o ar passa pelas cordas vocais que o transformam em som. O portador das “cinzas do corpo” ressuscita no som e o Eu, com auxílio do organismo fonador, transforma o som em fala, estruturado, articulado e com pleno sentido. Em caso do hipotireoidismo o sintoma da voz grave e grossa chama atenção. Muitas vezes também acontece um aumento do tamanho da língua, que interfere na articulação clara dos fonemas, resultando em uma fala grossa, monótona, lenta e desarticulada. A paratireoide presta este mesmo serviço na desmineralização do esqueleto, supera as forças da morte no esqueleto e as eleva para o plano superior da vida. Neste sentido pode-se entender o hipertireoidismo como resultado doentio de uma sétima excessiva, mas que desta forma não consegue se diluir na oitava, enquanto no hipotireoidismo o processo se parece com as qualidades da quarta e quinta em sua forma negativa, com a tendência de retroceder para a formação física, para a mineralização. Tudo leva a um endurecimento e pode causar câimbras. Mas o princípio da quarta e da quinta, na sua forma saudável, encontra-se na região das glândulas sexuais, masculinas e femininas, na reprodução e nos hormônios do rejuvenescimento, que lida com a vida, com a criação e não com a morte e a sua superação.
As Câimbras, porém, podem surgir por outra questão também. Armin J. Husemann relata que em pessoas histéricas, estados de medo podem causar uma respiração acelerada, que resulta num sistema nervoso inflado, que entra demais nos membros e no final se expressa em câimbras dos músculos. No ciclo “Os ritmos no cosmo e no ser humano” (GA350) Rudolf Steiner coloca em relação ao medo, que ele mantém o esqueleto compacto, que ele mantém a consistência da substância. O medo está embutido nas profundezas do organismo e quando se solta pode causar diarreia, dor ou até amolecer os ossos.
No final resta observar a ligação das glândulas com os chacras. Os chacras são os órgãos de percepção do corpo astral, enquanto os sentidos são os órgãos de percepção do corpo físico. Os sentidos desse corpo astral parecem imanar como flores de lótus originárias do âmago das glândulas endócrinas. O chacra que surge da Tireoide é o quinto chacra, o chacra laríngeo e tem 16 pétalas. Ele se encontra entre a 7ª vertebra dorsal e a 1ª vertebra toráxica. Corporalmente tem ligação com a tireoide, as cordas vocais, a voz, os brônquicos, a respiração, o pulmão, o esôfago e os braços. O seu tema central é a comunicação e a receptividade. O chacra laríngeo interliga os chacras emocionais de baixo com os dois espirituais de cima, unindo pensar e sentir. A compreensão e a percepção de conexões, relações, se tornam possíveis e paralelamente a isto a capacidade de expressar verbalmente o que foi compreendido. A pessoa com o chacra aberto ou desenvolvido tem clareza, discernimento, boa comunicação, humor, disposição ao crescimento espiritual, capacidade de transformação, inspiração, verdade, criatividade e musicalidade. Pessoas com bloqueios neste chacra, não são capazes de se fazer compreendidas, de expressar suas ideias e pensamentos e assim de cultivar a troca verbal com os outros. Estes bloqueios se manifestam em timidez, problemas de fala, gagueira, a incapacidade de escutar o outro, medo de expressar a própria opinião, dores dorsais, tensões na nuca e nos ombros, nervosismo e falta de motivação. Ou podem se manifestar em doenças como Hipo ou hipertireoidismo, inflamação de garganta e amidalite, rouquidão e gengivite. Para o desenvolvimento deste chacra Rudolf Steiner orienta no seu livro “Conhecimento dos mundos superiores” (GA 10), que é necessário de ter um cultivo de certas atividades anímicas. Como na antiguidade já foram desenvolvidos 8 pétalas dos 16, o ser humano de hoje precisa desenvolver apenas as outras 8. Portanto são 8 atividades anímicas, que precisam ser cultivadas:
1) prestar atenção a maneira como adquire as representações mentais, só aceitar aquelas que são um espelho fiel do mundo externo e erradicar pensamentos errados;
2) tomar decisões apenas a partir de reflexão profunda, evitar qualquer ação impensada;
3) Falar apenas o que tem significado sem se excluir do convívio social, não falar nem de menos e nem demais;
4) atuar em harmonia com o entorno, com a sua situação de vida, não perturbar os demais, atuar a partir da reflexão;
5) cultivar uma vida natural e espiritual ao mesmo tempo, buscar harmonia entre trabalho e descanso, buscar bons hábitos e saúde;
6) não fazer o que está além das forças e não deixar de fazer o que está dentro delas, cumprir e compreender as tarefas além do profano, aspirar o aperfeiçoamento;
7) aspirar o máximo de aprendizagem da vida, adquirir experiência;
8) reflexão sobre si mesmo, o sentido da vida, seus deveres, etc.
Rudolf Steiner ressalta que, veracidade, sinceridade e lealdade são forças construtivas em relação ao chacra laríngeo e que, mentira, falsidade e deslealdade são forças destrutivas que podem atrofiar as pétalas. Também chama atenção pelo fato que, não se trata da boa vontade, mas da ação feita.

IV. Conclusão
Está feito, um começo! Pois o tema da morte e da ressurreição, de como fazer a transformação, a inversão, é um tema para uma vida inteira, ou, quem sabe, para várias/muitas vidas. É o tema central da tireoide, da laringe, mas na verdade do ser humano, da humanidade. Cada vez mais, o ser humano, vai precisar alcançar uma compreensão sobre este processo. O que, até certa altura, foi dado, de agora em diante ficará sempre mais na responsabilidade do ser humano.
Fiquei surpresa e impressionada quando percebi que o hipotireoidismo é bastante frequente aqui no Brasil, mas pelo que parece, em outros países também. Parece que, em geral, as pessoas ficam cada vez mais doentes. Isto leva a pensar de como nossa civilização moderna, nosso modo de viver afeta a nossa saúde. As toxinas no meio ambiente, nos alimentos, no campo sensorial, lixo e poluição por todo lado, inclusive no campo magnético, pelas mídias, meios virtuais. Vivemos em um mundo carregado e a questão é: como isto afeta ou afetará a entidade humana? Outro ponto é a perda de valores que podemos observar hoje em todo lugar. As antigas estruturas sociais não seguram mais, o materialismo ainda se intensifica, as ideais e a ética estão se perdendo, tudo é permitido, muitas pessoas se sentem perdidas. O stress aumenta cada vez mais, a vida moderna não permite ter um ritmo saudável. Surge novamente a pergunta: Como isto afeta a entidade humana? E outras: Como lidar com isto? Como conseguir transformar tudo isto? Como podemos nos desintoxicar? Como fazer para que em meio a tudo isto o nosso Eu não se retire cada vez mais? Esta questão se refere à capacidade de desenvolver uma moralidade (ética) individual. Como evitar que os nossos sentidos e o nosso corpo astral endureçam? Como conseguir viver com um ritmo saudável? Estas são apenas algumas perguntas de muitas outras que eu poderia colocar aqui! Talvez a procura de um caminho interior possa ser uma resposta. Por exemplo, o cultivo dos oito pontos que Rudolf Steiner coloca no seu livro “Conhecimento dos mundos superiores”. Vale a pena olhar nesta direção. Segundo Rudolf Steiner (não dei referência bibliográfica, pois toda a sua obra fala a respeito disso), a humanidade estar em um momento decisivo para o seu caminho de evolução. É preciso cruzar o limiar para o mundo espiritual, ou seja, é preciso passar pela sétima para chegar à oitava. São tarefas que cabem a todos nos e poderíamos nos estender nestes pontos. Mas agora eu gostaria de voltar para as dúvidas que foram levantadas no estudo deste caso...

“Está feito, um começo”!

domingo, 23 de outubro de 2016

A Música como Impulso para a Liberdade

Texto elaborado por Bettina Happ Dietrich, participante do curso Antropomúsica, 2010 

Artigo de Conclusão de curso

Este tema é absolutamente novo para mim. Ele se abriu através deste
curso, Antropomúsica, mas na verdade é algo que já estava muito tempo
adormecido dentro de mim, algo, que permeava o meu sentir de forma muito
vaga. Portanto, este artigo representa a tentativa de trazer o assunto um pouco
mais para a consciência, é um começo, um portal para um novo caminho, não
apenas um trabalho para concluir este curso. Tentarei esclarecer, compreender
e concretizar algumas coisas que observei, senti, estudei. Com certeza haverá
muitas perguntas não respondidas e um longo caminho de aprofundamento.

Introdução

Quando observamos os acontecimentos da história, podemos reparar
que a música sempre esteve presente em situações de repressão, de guerra,
de grande sofrimento, de revolução, de rebeldia. Seja nas revoluções, no
movimento dos escravos, na época de repressão no Brasil e em outros países,
no movimento "Flower Power", etc. A música sempre consolava, impulsionava,
encorajava e fortalecia. Poderia até deixar os "inimigos" com medo. Mas não
precisamos olhar somente na história para observar este fenômeno. Se
pensamos em nossa própria vida encontramos este mesmo fenômeno, só
precisamos nos lembrar da nossa adolescência. Quantas vezes a música era
nosso consolo, nosso forte, aquilo que expressava que sentíamos, o que nos
tocava, o que acreditávamos e o que vivíamos.
Quando entramos em crise, a música pode ser uma âncora e um
impulso para fazer mudanças e/ou nos equilibrar. Através da música podemos
deflagrar processos de cura, de auto-superação. Libertamo-nos dos nossos
próprios impedimentos, das nossas limitações, deixamos para trás o que não
serve mais. Podemos nos superar e superar situações difíceis e hostis com a
ajuda da música. Descobrimos assim a música como um caminho de cura, de
cura para o indivíduo e para o social.
Com estas reflexões podemos compreender o conceito da liberdade de
forma ampliada. Libertar-se de situações de repressão, libertar-se das próprias
dificuldades, libertar-se dos próprios impedimentos, libertar-se das doenças.
Compreendemos a liberdade como um processo de transformação e de
superação em vários âmbitos.
Eu dou aula de música numa instituição que atende pessoas com
deficiência. Lá se mostra claramente a atuação construtiva que a música pode
ter.Todos vivenciam a aula com muita alegria e chegam muitas vezes em
resultados surpreendentes. Uma das atendidas não se comunica verbalmente,
ela sabe falar, mas não se utiliza disso. Nas aulas ela sempre canta, participa
em todos os exercícios e fica muito feliz com isso. Teve momentos nos quais
ela conseguiu levar um pouco dessa maior abertura para o dia a dia e começou
a se expressar verbalmente.
Um outro atendido que vive constantemente na periferia - não consegue
se concentrar, não tem limite nenhum - descobriu a Kantele. Através do tocar
ele pôde ter a vivencia da concentração, do centramento e mesmo na vida
diária está agora mais contido.
Eu poderia citar vários destes exemplos. Olhando para eles a música até
parece ter uma atuação mágica. Mas o que é que acontece? O que é a
música? Porque ela atua tanto? De onde ela vem?

A Música como ponte

Segundo Schopenhauer a música tem uma atuação diferenciada das
outras artes. Ele diz que todas as artes precisam atuar através da
representação, precisam se formar sendo imagens da vontade. A música não.
O tom já é a expressão da própria vontade. Se ouvimos o tom, ouvimos a
vontade da natureza, percebemos o ser do cosmos que se encontra na
natureza e dentro de cada um. A música atinge diretamente a alma, a nossa
vontade, não há filtro. A luz e os conceitos passam pelo filtro da razão, o som
não, ele nos penetra, preenche totalmente e sobe também das próprias
profundezas. O som está diretamente ligado a nossa essência e a essência do
mundo. Rudolf Steiner coloca que o som é a alma das coisas mesmas, que
estremece e nos fala em forma sonora. Em todas as coisas, nos metais, na
madeira, nas minerais, nas plantas, em tudo que existe no mundo vive algo de
música que se calou. "Uma lembrança que o mundo foi feito da palavra e do
som".(Karl von Baltz " Rudolf Steiners musikalische Impulse",P.181)
Rudolf Steiner parte da premissa que, como diz o prólogo do evangelho
segundo João, "No princípio era o verbo...." Tudo no mundo físico tem como
essência um Tom espiritual, o próprio homem nas profundezas do seu ser é um
Tom. Esta premissa encontra-se nos mitos, epopéias e gênesis de muitos
povos. A criação do mundo segundo a tradição oral Guarani termina assim:
" ...e sons andantes cantarão vida, cada qual em seu tom." Eles falam da
"linhagem-linguagem-humana".
Paracelsus expressa isto da seguinte forma: " Os reinos da natureza são
as letras e o ser humano é a palavra...."
Portanto podemos dizer que, através do tom, da música, o ser humano
pode se conectar, ou se religar com a sua própria essência. Existe uma história
que eu gostaria contar em relação a isto:
"A Canção do Homem"
"Quando uma mulher, de certa tribo da África, sabe que está grávida, segue para
 a selva com outras mulheres e juntas rezam e meditam até que aparece a
"canção da criança".
Quando nasce a criança, a comunidade se junta e lhe cantam a sua canção.
Logo, quando a criança começa sua educação, o povo se junta e lhe cantam a
sua canção.
Quando se torna adulto, a gente se junta novamente e canta.
Quando chega o momento do seu casamento a pessoa escuta a sua canção.
Finalmente, quando a sua alma está para ir-se deste mundo, a família e
amigos aproximam- se e, igual como em seu nascimento, cantam a sua
canção para acompanhá-lo na 'viagem'.
Nesta tribo da África há outra ocasião na qual os homens cantam a canção.
Se em algum momento da vida a pessoa comete um crime ou um ato social
aberrante, o levam até o centro do povoado e a gente da comunidade forma
um círculo ao seu redor.
Então lhe cantam a sua canção.
A tribo reconhece que a correção para as condutas anti-sociais não é o
castigo; é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade.
Quando reconhecemos nossa própria canção já não temos desejos nem
necessidade de prejudicar ninguém.
Teus amigos conhecem a 'tua canção' e a cantam quando a esqueces.
Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos erros que cometes, ou
as escuras imagens que mostras aos demais.
Eles recordam tua beleza quando te sentes feio, tua totalidade quando estás
quebrado, tua inocência quando te sentes culpado e teu propósito quando
estás confuso."
Esta simples e bonita história retrata bem como podemos nos lembrar
do nosso propósito através da música, ela pode nos lembrar porque razão
estamos na Terra, qual é a nossa verdadeira intenção. Quantas vezes a
música certa na hora certa nos ajudou a voltar no nosso caminho? Muitos
devem ter tido esta vivência, e muitos já devem ter sentido o quanto isso toca
no mais íntimo da nossa alma.
Isto é possível, por que, segundo Rudolf Steiner, a música tem a sua
origem no mesmo lugar que o ser humano tem a sua pátria. A verdadeira
música é espiritual, ela abrange tudo, desde a criação do mundo até o futuro
desenvolvimento da Terra, e a música terrena é somente uma imagem, uma
sombra desta verdadeira música que preenche o mundo espiritual.
Sempre quando o homem vive no elemento musical ele se lembra da
sua verdadeira pátria, se percebe como um ser espiritual, ele percebe que
existe na Terra. No âmbito do som, da música, somos todos iguais, somos
todos irmãos, somos todos seres espirituais em desenvolvimento. A música
une, supera fronteiras e diferenças, ajuda-nos a superar a nos mesmos, a
música é a relação do homem como um ser anímico-espiritual consigo mesmo.
O meu eu, que é mera aparência se conecta ao verdadeiro ser e fala com ele.
Podemos nos lembrar que o outro sou eu também, mas que aqui na Terra cada
um mergulhou em um ponto, cada um "em seu Tom".

A música como força criadora

O espírito e a matéria no fundo são a mesma coisa, são iguais, só que
um está expandido e o outro concentrado, um é essência e o outro expressão,
aparência, imagem. Os tons são somente a expressão sensorial da verdadeira
música, não são a música, assim como o corpo não é a alma. A música se
encontra entre os tons, nos intervalos, ela se faz nas relações entre os tons,
naquilo que não ouvimos, esta é a parte espiritual. "Procurem ouvir o
inaudível!" é o convite, "Ouçam com o ouvido espiritual". E é nesse silêncio do
"espaço vazio" que a transformação se faz, que ocorre o processo. E o
processo é a essência, a música é o portal para acessar este plano. Tudo
começa no inaudível. O músico ouve primeiro no seu interior, é ali que ele
encontra os tons. A pessoa que escuta, recebe a música dentro de si, onde ela
novamente se torna inaudível. Ao emitir um som manifesto, densifico algo da
essência sonora, ela morre quando sai de mim, se torna físico, se torna
movimento. O outro recebe esta onda e ressuscita o som dentro de si. Para isto
serve o ouvido, para tornar o audível inaudível novamente, e assim ressuscitar
o som. Pois o som somente vive dentro, no íntimo da alma, fora ele em si não
existe, fora ele é movimento.
Em um dos módulos da Antropomúsica, Marcelo nos fez uma pergunta
interessante: "Se na floresta caiu uma árvore e não teve ninguém que
percebeu, que ouviu, houve som?" Chegamos na conclusão que não, mas
houve movimento.
Neste sentido o som, a música na Terra é algo absolutamente humana,
ela vive dentro dele e se auto-cria dentro dele, e o cria , como também cria o
mundo todo. Tudo existe por meio do ouvir:
"Antes da existência do mundo, já existia o ouvir, o ouvir do mundo.
O ouvido humano hoje só consegue perceber tons do plano físico. Isto no
fundo é um último resto daquilo que em tempos remotos fluía para dentro do
homem através do ouvido. Antigamente fluíam através do ouvido os
movimentos poderosos do universo inteiro. E como ouvimos hoje a música
terrestre, ouvíamos a música das esferas. E como hoje vestimos as palavras
em tons, assim vestia-se em música das esferas a palavra cósmica, aquela de
que fala o evangelho de João como a divina palavra cósmica, o verbo, o logos.
E assim como o homem hoje forma o ar através da sua fala e do seu canto,
assim criaram, as palavras divinas e a música divina, as formas.
Assim surgiu do logos o mundo, as formas e o ser humano.
A nossa mãe é o ouvido!" (Rudolf Steiner)
Podemos observar isto em escala muito menor quando se faz a
experiência dos "chladnische Klangfiguren" (figuras sonoras de Chladne?):
Coloca-se um pouco de areia em cima de uma placa de metal, que está
suspense num suporte. Agora passa um arco de violino no canto da placa.
Ouve-se um som e pela vibração a areia se ordena em figuras geométricas.Isto
acontece também com água quando está sendo exposta a um som. A música,
o som, se torna movimento, ritmo, forma no mundo físico:
"A música e o ritmo não são mais que espelhos das estruturas cósmicas,
constituindo, por isso, uma importante via para nos reatarmos com nossas
origens mais distantes e remotas. Antes de tocarmos ritmos, os ritmos nos
tocaram.
Todo o universo é vibração...
A matéria não é 'sólida', nem é sem movimento e vibração; tudo vibra
ritmicamente. Se olharmos nossa sólida pele num microscópio eletrônico,
descobriremos que existe um mundo de aparência aquática que se move
ritmicamente numa interminável dança da vida...
Tudo se dissolve em formas e vazios, em pautas e estruturas...
Nas palpitações do nosso coração, no ato respiratório ou no andar regular,
todos nos possuímos a capacidade expressiva de impulsos perfeitos num
equilíbrio eterno. Nossa missão consiste em nos unirmos a esse pulso e em
nos acompassarmos plenamente com o tempo presente."( Carlos D. Fregtman,
"O Tao da música")

A atuação da música no homem terrestre

Nos ouvirmos com o corpo inteiro. Os nervos, assim chamados motores,
como os ossos também, estão interligados com a audição . Os nervos do
sistema piramidal formam uma grande "lira" nas costas. Eu ouço e isto atua na
minha laringe. Existe uma larga pesquisa de como atuam os sons e palavras
nas estruturas , nos cristais das águas. Dependendo de sons harmoniosos ou
não os cristais são harmoniosamente estruturados ou não; dependendo da
construtividade da palavra os cristais se formam correspondentes. Isto
impressiona muito, pois o nosso corpo, assim como a Terra , se compõem de
grande parte de água e podemos observar aqui uma influência enorme sobre a
nossa saúde e a saúde do planeta.
É uma experiência muito estimulante, observar o que a música que
estou ouvindo faz com os ritmos do meu corpo...o que ela causa no meu corpo.
Assim como ouvirmos com o corpo inteiro, também falarmos e
cantarmos com o corpo inteiro. Através do nosso sistema respiratório todos os
outros sistemas são envolvidos, tanto a parte neurossensorial quanto a parte 
metabólico- motor. O processo respiratório continua atuando até no cérebro
onde causa o subir e descer do licor. O processo respiratório tem uma
influência direta sobre pensar, sentir e querer. Tudo o que o ser humano fala ou
canta é uma expressão do homem inteiro , ou poderíamos dizer uma síntese
da atuação em conjunto das capacidades anímicas. Porém a música se apoia
totalmente no sentir. O sentir pode se aproximar mais no lado pensamental e
assim criar as melodias, ou se aproximar mais ao querer e deixar surgir o ritmo,
ou se centrar mais em si mesmo criando as harmonias, mas mesmo assim a
música sempre continua vivendo no sentir.
É a partir do sentir, do sistema rítmico que o ser humano pode manter a
união, o equilíbrio, a integridade, a harmonia entre pensar querer e sentir, entre
corpo, alma e espírito. Encontramos aqui a chave para a saúde física, anímica
e mental do ser humano. É neste âmbito onde podemos criar este "espaço
vazio" que proporciona a possibilidade para uma transformação, é onde podem
acontecer os processos. No âmbito do sentir vivemos o presente, vivenciamos
cada momento. A nossa vontade, o que queremos, ainda não se realizou, está
vindo do futuro ao nosso encontro. O que pensamos já foi, já morreu, era vivo
no passado, já concluímos.
Por isto o sentir, o momento presente, é a nossa chance para atuar,
para transformar, para mudar, para ousar...Isto acontece se conseguimos criar
uma abertura para isto, o "espaço vazio" , um "palco". A música é capaz de
criar esta abertura, pois quando eu faço música eu me elevo, eu me esqueço,
eu me supero , eu posso me entregar, eu sirvo a algo maior.
Eu gostaria de ousar um pouco, mudando algumas palavras de um poema de
Christian Morgenstern e dizer com ele:
Nas poderosas asas da música
eleva-te sobre as névoas do desgosto
até tornares-te pequeno para ti mesmo
com todo o teu sofrer;
até te tornares grande a cima de ti mesmo
e todo o teu sofrer.

Conclusão

As perguntas que foram lançadas no começo deste artigo não foram
respondidas de forma plena. Como já disse é um começo. As idéias colocadas
servem para dar um direcionamento para uma pesquisa maior. Existem muitos
aspectos que nem foram mencionados.Tenho consciência que toquei apenas
na superfície dos assuntos, e que ainda tenho um longo caminho pela frente,
mas é o que me move...minha força motriz.
Ainda há tantas perguntas em aberto, como por exemplo:
O que acontece nas pessoas que não são tocadas pela música ? Isto existe ?
Por que existem pessoas que não gostam de música ? O que acontece com
uma cultura que se abstêm da música ? Qual será a atuação das músicas
modernas futuramente ? Quais são os seres que atuam nestas músicas ?
Como se liga o impulso da música com o grande ser da evolução humana, com
o Cristo ? etc...
Existem tantas perguntas que ainda nem sou capaz de formular ou de
reconhecer, mas estou bem tranquila, pois o meu caminho (profissional) na
música está bem no começo e irei "caminhando e cantando e seguindo a
canção" passo a passo.